História da magia?
Historiografando técnicas de outras epistemes
Resumo
Este artigo apresenta resumidamente a trajetória de pesquisa que delineia uma tese de doutorado em vias de conclusão no HCTE. Parte-se de uma análise empírica de grupos religiosos de matriz afroindígena no Rio de Janeiro para a constatação de que a história da medicina no Brasil e a história da magia estão intimamente entrelaçadas. Expandimos nosso argumento destrinchando o desenvolvimento da psicanálise na Europa, seus precursores e desdobramentos, para mostrar que tal fenômeno não é de modo algum cultural ou localizado, mas universalmente humano. Defendendo o paradigma de pesquisa iniciado por Frances Yates em seu estudo sobre a contracultura do Renascimento, apresentamos ainda as contribuições de Cheik Anta Diop e a de pesquisadores do HCTE, que têm se debruçado recentemente sobre o problema. Transpondo nossa pesquisa para um olhar transdisciplinar, tornou-se ainda mais evidente o nosso argumento de que a razão científica e o desenvolvimento tecnológico não estão, nem estarão nunca desvencilhados do pensamento mágico e das experiências místicas. O progresso científico não é um afastamento dessa matriz arcaica humana, mas sim a sua continua reificação. A história das ciências e das técnicas é também uma História da Magia.
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