O SONHO DE DESCARTES

  • Maira Monteiro Fróes Programa de Pós Graduação em História das Ciẽncias, das Técnicas e Epistemologia (HCTE-UFRJ)
Palavras-chave: Sonho, Descartes, Ciência

Resumo

O que é o sonho senão a consciência liberta, em sua mais plena manifestação? O que seria hoje da ciência sem o "Sonho de Descartes"? O que seria hoje do homem sem o sonho na ciência? Nossas sensações estão indiscutivelmente susceptíveis ao nosso bias, as nossas convicções prévias, mas também representam a nossa mais completa experiência do que imaginamos seja a realidade física, o mundo objetivo. Por esta razão, as leituras do mundo objetivo que emergem da transdução de eventos físicos em correlatos sensoriais, em sensações, complementados por camadas de significação lógica, estética e afetiva, ainda que falíveis por encerrarem-se em nosso pequeno universo de consciência, representam o único canal através do qual podemos ir além do que as qualidades físicas escrutinizáveis de seus objetos nos instruem diretamente. Se o processamento cognitivo multimodal responde pelo aprofundamento do conhecimento humano, como nossos muitos e variados campos de conhecimento atestam, precisamos rever nossas regras de pensamento e fruição cognitiva em ciência. Representando um preâmbulo do eixo de problematização do grupo multidisciplinar Anatomia das Paixões, coordenado pela presente autora, este artigo pretende pinçar à discussão algumas razões pelas quais deveríamos considerar, no processo de criação do conhecimento científico, a experimentação de trânsitos cognitivos complexos, como aqueles de conteúdo simbólico, metafórico, inefável, relegados ao sistema de criação artística. Numa contracorrente do pensamento científico vigente, uma análise objetiva mais alargada e profunda do problema científico poderia beneficiar-se da contemplação de base subjetiva, em níveis de inspiração. No exercício de perscrutar ordens impressas para além dos correlatos algorítmicos ora evidenciáveis pelo olhar que privilegia a lógica discursiva em detrimento das demais vivências cognitivas, propomos uma nova conduta racional, numa razão que se abra ao benefício de vivências não racionais, no sentido estrito da palavra. Ainda que preservados os velhos trilhos do método experimental em ciência, o alargamento das possibilidades de formulação de hipóteses e de metodologias de testagem poderia advir do nosso contato com as cargas simbólicas e de equivalência funcional, sistêmica, que permeiam nossos objetos de interesse científico.

Biografia do Autor

Maira Monteiro Fróes, Programa de Pós Graduação em História das Ciẽncias, das Técnicas e Epistemologia (HCTE-UFRJ)

Maira Monteiro Fróes é Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desde 1996. Pesquisa científica em biofísica de sistemas e neurobiologia de sistemas. Compõe o Conselho Diretor do Programa Avançado de Neurociências, da UFRJ. Vem atuando desde 2015 como professor responsável pela disciplina EET-100 Tecnologia e Desenvolvimento Social, da Escola Politécnica da UFRJ. É professor orientador permanente do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia da UFRJ, membro fundador do Rio SfN Chapter, pesquisador-associado do PACC UFRJ e pesquisador-membro do Espaço Alexandria (Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa PR-2). É ainda TEDx e Salzburg Global Fellow. É Professor Associado no Instituto Tercio Pacitti de Aplicações e Pesquisas Computacionais, tendo fundado em 2014 o Laboratório de Neuroepistemologia Experimental Anatomia das Paixões, e o complexo Laboratórios de Métodos Avançados e Epistemologia LAMAE, centro de laboratórios, articulados em redes transdisciplinares de pesquisa, extensão e graduação. Afiliações a sociedades científicas: Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento SBNeC, Sociedade Brasileira de Ciência Cognitiva SBCC, Society for Neuroscience SfN, Sociedade Brasileira de Computação SBC.

Publicado
2019-11-28